segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

UMA CARTA DE AMOR (PRA VOCÊ)

Eu não ligo se não me ama. Talvez se eu fosse diferente numas coisas e igual em outras. Mas sou igual numas e diferente noutras. Tudo bem, é a sua diferença que eu amo tanto. Um homem comum mas de verdade, raro e a única exceção entre todos.

Amo muito, amor que há muito não sentia. Amo acima de tudo, das formalidades, da dor de não ser correspondida e até da inveja daquelas que um dia ocuparam seu coração.

Amor sólido, que nasceu e cresceu com o tempo. Que muito sorriu e pouco chorou e de senti-lo me fez uma pessoa melhor. Agora, minha inspiração é você.

Estou entregue, transparente e vulnerável. Mas não burra, dependente ou com medo. Conheço meu espaço, conheço o seu espaço.

E hoje, tudo o que quero são suas mãos, sua boca, seu cheiro e seu abraço. Sua voz, seu sorriso, seu olhar e seu silêncio.

Ainda que nada disso seja meu, não ligo, porque te amo e te liberto e é só livre que tens o meu amor.

sábado, 18 de dezembro de 2010

AMIGA

Deixa-me ser a tua amiga, Amor;
A tua amiga só, já que não queres
Que pelo teu amor seja a melhor
A mais triste de todas as mulheres.

Que só, de ti, me venha mágoa e dor
O que me importa a mim?! O que quiseres
É sempre um sonho bom! Seja o que for
Bendito sejas tu por m’o dizeres!

Beija-me as mãos, Amor, devagarinho...
Como se os dois nascêssemos irmãos,
Aves cantando, ao sol, no mesmo ninho...

Beija-mas bem!... Que fantasia louca
Guardar assim fiechados, nestas mãos,
Os beijos que sonhei pra minha boca!...


[Florbela Espanca]

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

DOCE COMO O FEL

Eu quero a sorte de um amor tranqüilo e tenho a sorte de uma amizade tranqüila.

Às vezes, demoro a entender e perceber as coisas. Mas entendi, percebi e senti. Senti vontade de fugir. Sozinha. Ser invisível e morar com os livros. Parar o tempo e lê-los todos, sem pressa para voltar. Eles fazem me sentir mais perto.

Uma preguiça gigantesca, gigante pela própria natureza, da vida, de gente, dessa babaquice toda de fim de ano. Engolindo o rancor que às vezes escapa pela boca e atinge quem não merece. Arrumo desculpas para chorar uma dor que ignoro.

Vou arrumar o quarto, jogar fora lembranças que não tenho. Sorrir e fingir que estou feliz. Mendigar abraços de outros sangues, pequenos, superficiais e desacolhedores.

Minhas crenças e convicções são todas pautadas em dúvidas e está aí a raiz do problema. Nem enlouquecer consigo mais. Conheci a exceção e ela não é minha. Voltou à regra.

Isso tudo não faz sentido e não é para fazer. Hoje estou doce como o fel e de Selvagem não sobrou nada. Vou dormir para não sentir e ao acordar serei outra. Como sempre.